quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Conta-me histórias: "Quem conta um conto, acrescenta um ponto"

Lembram-se do Sr. Luís e do primo Bruno? (Ver peça aqui)

Pois bem, hoje vou-vos falar sobre as velhas lá da vila. 

Lá na vila ainda não havia jornalismo a sério (jornais, televisão, internet), então as notícias iam chegando aos ouvidos das pessoas através destas senhoras idosas, que iam contando as novidades lá do lugarejo da forma que bem lhes convinha.

Reuniam-se no café do Serpa ou na Pastelaria Ribeiro e passavam assim os seus dias, conspirando sobre a vida alheia. Muito elas gostavam de inventar uma boa farsa. Todas queriam contar a melhor história, que quanto menos verdadeira fosse, mais apreciada seria por quem as gostava de ouvir.

Mas falavam mal de toda a gente? Nada disso. Elas gostavam muito do menino Filipe, um menino que sempre andou na catequese e nunca faltava às missas de Domingo. Apesar das suas orelhas de abano todas diziam que era o menino mais bonito lá da vila e que tinha uma educação invejável. Mal elas sabiam que era o menino Filipe a roubar as guloseimas da mercearia do Pereira…

Do Jorge já gostaram mais. Era filho do Presidente da Junta e também ia à missa quando podia. Quando passava pelas velhas davas-lhe sempre uma beijoca e elas ficavam derretidas com ele. Também gostava de fazer das suas pela calada e ainda gozava com as anciãs da vila por não perceberem as trafulhices que ele lhes fazia. Hoje, mais velho deixou de ter tempo para aparecer nas assembleias religiosas e as velhotas trapaceiras não lhe perdoam.

O Bruno nunca andou na catequese e não gosta de ir à missa. Apesar de ser de uma família abastada que se rege por valores como a boa educação e o respeito pelo próximo, continua nas bocas das velhas intrujonas. Sem saberem da missa a metade, como boas contadoras de histórias que são, gostam de conspirar sobre tudo aquilo que acontece na vida do Bruno. Para elas o Bruno é o maior intrujão, farsante e um autêntico vigarista. Dizem que mais cedo ou mais tarde vai levar os negócios da família à falência e arruinar o bom nome de uma família que afirmam admirar, mas que no fundo só lhes provoca sentimentos de inveja e cobiça.

Vão existir sempre velhas cuscas e aldrabonas lá na vila, capazes de inventar as maiores barbaridades sobre a vida dos outros, só para se sentirem importantes e continuarem a dispor da atenção de muita gente que só as procura por esse motivo. As mentiras são o ganha-pão do seu dia-a-dia e já não conseguem viver sem elas. Vão ser sempre umas bajuladoras que se vendem por muito pouco, que se fiam nas aparências e que julgam as pessoas pela sua religião e pelas famílias a que pertencem.

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